terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

A Flor e o Andarilho

Num deserto havia um andarilho e nele cada grão de areia era uma pessoa diferente, sim, milhões de pessoas que o caminhante tinha oportunidade de conhecer. Mas para ele essas pessoas eram meros grão de areia nas dunas. Lá ele ia caminhando sob o Sol escaldante, já cansado, porém com esperanças e eis que a paisagem muda... no meio do amplo dourado algo se destaca: uma linda flor. Ele se perguntava: "Há quanto tempo não vejo algo assim? nem lembrava que era possível ver tamanha beleza nessa monotonia". Durante todo esse tempo no deserto quando via uma flor a primeira coisa que fazia era arrancá-la e levar consigo por apenas alguns passos adiante, assim  a flor logo murchava e ele continuava sua caminhada sempre se questionado o porquê elas duravam tão pouco tempo em sua companhia. Mas, dessa vez não queria arrancá-la. Ele sabia que essa flor era especial e não podia cometer os mesmos erros. Dessa vez queria fazer algo diferente. Por em prática o que aprendeu com as lições vividas na jornada. A flor, apesar da solidão, não se incomodava em estar só. O Sol não tinha pena dela, mas ela era forte. Não tinha água por perto, mas ela dava um jeito. A vida era dura, mas ela estava sempre florindo. Ela também viu o andarilho. Ele foi se aproximando cada vez mais e percebeu que a flor era mais bonita ainda. Tinha também um detalhe: estava sem algumas pétalas... A flor não se animou muito com a aproximação do desconhecido. Totalmente o oposto da reação do viajante. Ele a encarou. Ela se virou.
Ele disse: "Deixe-me por um pouco de água em você, olha esse Sol como está forte"
Ela respondeu: "Não precisa. Fico agradecida. Eu estou bem, tenho meu jeito de conseguir água. Você precisará mais do que eu. Ainda tem muito deserto pela frente."
Ele: "O que aconteceu com suas pétalas? Vi que está faltando algumas... Sinto-me uma pessoa de sorte por ter te encontrado pelo caminho. Gostaria ao menos de retribuir com um pouco de água"
Ela: "Por aqui passam muitas pessoas como você. Olham-me, conversam comigo, me oferecem água e depois querem me arrancar. Eu digo para me deixarem em paz, ficam com raiva e alguns me levam umas pétalas. Dói muito quando fazem isso. Por isso, pode ficar com a água. Como eu disse eu sempre dou um jeito de me hidratar."
Ele: "Certo. Não queria incomodar. Bom, já está escurecendo e tenho que montar minha barraca. Posso ficar por aqui esta noite? Prometo que não vou arrancar uma pétala sequer."
Ambos sorriram. Ele montou a barraca, fez uma fogueira e assim passaram a noite conversando até pegar no sono.
Quando a flor acordou suas pétalas estavam completas e mais fortes. Não havia mais ninguém por perto, apenas um bilhete que dizia: "Durante muito tempo fui essa pessoa que arrancava pétalas. Quando você dormiu coloquei um pouco de água em ti.Você sorriu dormindo. Quando estiver lendo sei que estarás mais linda do que já era. Ás vezes a gente só precisa deixar que alguém nos dê um pouco de água. Com admiração: Viajante Desconhecido"